A ciência na Antártica

  • 27 de outubro de 2014
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A Antártica ganhou nova importância a partir do começo do século XX pela questão científica e várias expedições realizadas de barco e avião. Durante um tempo, o continente ficou inexplorado – os interesses e o momento histórico eram outros, e os investimentos para as viagens eram direcionadas para outras coisas.

Em 1956, a atividade exploratória na Antártica voltou com tudo: o contra-almirante George Dufek pousa com sucesso em 31 de outubro de 1956 uma aeronave no Polo Sul. No ano seguinte, inúmeras expedições foram montadas e teve início uma nova corrida pela Antártica, com vários países querendo controlar e explorar o continente.

Em dezembro de 1959, o Tratado da Antártica foi assinado, entrando em vigor em junho de 1961 e autorizando as nações participantes a realizar a exploração científica do continente, em regime de cooperação internacional. O principal objetivo do Tratado da Antártica é:

“Assegurar que a Antártida seja usada para fins pacíficos, para cooperação internacional na pesquisa científica, e não se torne cenário ou objeto de discórdia internacional”.

Logo, o papel da ciência no continente também ganhou contornos políticos. A pesquisa científica se tornou importante ao trazer respostas sobre as relações climáticas e ambientais, bem como a funcionalidade do bioma ártico. Ao mesmo tempo, se feita de maneira incorreta, pode ser mais prejudicial do que o próprio turismo, que começa a se popularizar.

O navegador Amyr Klink comentou que “a pesquisa feita sem vigor, sem um planejamento ou sem conteúdo e densidade, desenvolve algo completamente absurdo”. Ele cita o caso da Argentina, que deve ter uns “40 ou 50 abrigos abandonados, navios completamente decrépitos e tripulações completamente inexperientes. Eles têm uma força de atuação nas bases terrestres que é altamente condenável”.

O Brasil também está atrasado nesse sentido. A Estação Antártica Comandante Ferraz foi destruída por um incêndio em fevereiro de 2012 depois de uma explosão na Praça das Máquinas. A construção da nova estação, bem mais moderna e com várias facilidades, como saída direta para o mar e um prédio elevado, está previsto para ser concluída em 2016.

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Estação brasileira Comandante Ferraz (reprodução)

Segundo a Agência Brasil, na primeira semana de outubro de 2013 foi iniciada a 32ª Operação Antártica (Operantar 32), com a partida do Navio Polar Almirante Maximiano e do Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, em uma operação que se estenderá pelo período de um ano.

Na Operantar serão apoiados 24 projetos científicos de diferentes áreas de conhecimento, selecionados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), envolvendo cerca de 300 pessoas, entre pesquisadores e alpinistas, distribuídos nos dois navios e nos Módulos Antárticos Emergenciais (MAE). Serão feitas pesquisas de estudo da biodiversidade e do ecossistema, investigações sobre mudanças climáticas naquela região e suas consequências para o mundo, além de pesquisas nas áreas de oceanografia, glaciologia e geologia.

Nas várias pesquisas publicadas e divulgadas ao longo dos anos, percebe-se que os brasileiros possuem uma paixão pelo seu trabalho e pela região, tornando a pesquisa brasileira na Antártica uma referência internacional.

O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jefferson Cardia Simões, é o pioneiro da ciência glaciológica no Brasil. Ele contou que o principal objetivo da participação brasileira é estudar as relações do ambiente antártico com o ambiente sul-americano, e traz um enfoque para as mudanças climáticas, tentando entender como essas alterações no meio-ambiente afetam a Antártica e como a Antártica afeta o dia-a-dia.

Jefferson já esteve na Antártica 17 vezes. Entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009 – época do verão Antártico -, o pesquisador liderou a expedição Deserto de Cristal, onde buscou obter um “testemunho de gelo”, cilindros que possuem entre 5 e 10 centímetros de diâmetro retirados do manto do gelo antártico e que revela a história da precipitação química da atmosfera dos últimos 250 anos.

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Professor Jefferson Cardia Simões (reprodução)

Esse tipo de pesquisa ajuda a entender melhor os processos de mudanças globais no clima. Até agora, sabe-se que a Antártica tem um importante fator de regulação da dinâmica climática do planeta. Sabe-se que a região é bem sensível e possui uma biodiversidade impressionante.

Num documento divulgado pelo governo federal que envolve o plano da ciência antártica para o Brasil, explica-se que as regiões polares são tão importantes quanto os trópicos no sistema ambiental global. A região Antártica, devido à presença de 90% do volume da massa de gelo do planeta, é o principal sorvedouro de energia da Terra, tendo papel essencial na circulação atmosférica e oceânica e, consequentemente, no sistema climático terrestre. É uma das regiões mais sensíveis às variações climáticas, estando interligada com processos que ocorrem em latitudes menores, em especial com a atmosfera sulamericana e os oceanos circundantes. A ligação dos trópicos com as altas latitudes está vinculada à gênese e dinâmica das massas de ar frias geradas sobre o Oceano Austral e que, na escala sinóptica, avançam sobre a América do Sul subtropical, produzindo eventos de baixa temperatura e geadas nos estados do sul do Brasil (as friagens ou frentes frias que podem chegar até o sul da Amazônia).

Percebe-se essa fragilidade do sistema antártico com as imagens recentes divulgadas pela NASA, a agência espacial norte-americana: ao invés do degelo, ocorreu um aumento da camada de gelo na região. Os cientistas ficaram alarmados, já que este fenômeno revela o desequilíbrio climático do planeta.

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Imagem de satélite da NASA que mostra o aumento da massa de gelo no sul do planeta (divulgação)

A questão da ciência na Antártica é bem delicada, mas importantíssima. Mais do que simplesmente apresentar dados científicos, as pesquisas buscam compreender as relações do bioma e clima antártico com o restante do planeta, além de alertar as pessoas sobre a importância do continente gelado. O turismo acaba sendo uma importante maneira disso se concretizar – mas também pode ser algo perigoso para a Antártica.

por Lucas Loconte
Fonte: Zazuê