Expedições


Circunavegação Polar Tripulada (2003)

Circunavegação Polar com outros 5 tripulantes a bordo do Paratii 2″


Cinco anos após a primeira circunavegação, já com o Paratii2, em 2003, que Amyr partiu em direção às altas latitudes sul novamente. Desta vez com cinco homens na tripulação, o explorador conseguiu repetir a façanha conduzindo seu veleiro por altitudes mais altas do que na viagem de circunavegação anterior – o Paratii2 alcançaria os 68º Sul. De dezembro de 2003 a fevereiro de 2004, após 13,3 mil milhas náuticas (24,6 mil quilômetros), Amyr e sua equipe completariam outra volta ao mundo em apenas 76 dias. Nessa viagem, co-patrocinada pelo canal NatGeo, seria feito o documentário Continente Gelado.


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Viagem Experimental (2002)

Imagine a emoção de estrear um barco em alto mar, com ondas bravias, mares revoltos e uma profundidade imensurável abaixo dos seus pés”


Imagine a emoção de estrear um barco em alto mar, com ondas bravias, mares revoltos e uma profundidade imensurável abaixo dos seus pés. O frio na espinha se intensifica quando se trata de um barco projetado por Amyr Klink e testado ao seu modo intrépido, em um roteiro realizado em 2002 que simplesmente percorreu, em uma etapa inicial, todo o Oceano Atlântico, de sul a norte e norte a sul. Em seguida, o barco seguiu rumo ao extremo do globo e passou por Ushuaia, na Argentina, pela Península Antártica e pela Ilha Geórgia do Sul. Um roteiro para poucos, denominado pelo capitão Klink de Ciclo Completo Antártico.

Foi dessa forma intensa que aconteceu o début do Paratii II, quando seu casco de alumínio singrou os mares pela primeira vez. Do Brasil até as ilhas Baleares, na Espanha, a viagem foi feita sem vela, apoiada apenas nos motores da embarcação. O barco estava sem seus modernos mastros, de fibra de carbono. Amyr e sua equipe partiram para Palma de Mallorca com a crítica missão de resgatar os mastros encomendados ao estaleiro contratado, que estava em dificuldades judiciais e financeiras e não dava mais garantias, nem sinais, de que iria finalizar as peças — que juntas somavam as economias e o trabalho de seis anos de Amyr. Foram mais de 1 500 horas homem de trabalho, de novembro de 2001 a janeiro de 2002, até que os mastros estivessem prontos e instalados.

Na volta, um susto quase interrompeu o teste de forma trágica. Uma tempestade muito forte estourou uma das janelas laterais do barco.

Os computadores de navegação foram inundados com um jato de cinco mil litros de água salgada.

“Isso obrigou a gente a redesenhar o sistema de fixação de borracha de todos os painéis de vidro. Hoje praticamente todos os barcos que tem esses painéis usam o que a gente desenvolveu”, conta o navegador. Depois do ajuste, Amyr e a tripulação fizeram uma escala na Terra do Fogo, antes de velejarem para o Canal de Drake, em uma viagem arriscada, fora de época.

Por conta da demora na finalização dos mastros, Amyr conduziu o Paratii II aos mares gelados antárticos apenas em meados de fevereiro — a praxe é que os barcos estejam voltando dessa região nessa época do ano, por conta da quantidade excessiva de gelo solto na água. Amyr levou a embarcação até o Círculo Polar Antártico, até a minúscula Baía Margarida. Do começo da península, onde estão as bases dos países em ilhas subantárticas, até chegar ao continente, foram quase mil quilômetros. Sem contar a volta, que teve uma providencial etapa na Ilha Geórgia do Sul, no final do mês de março. Nesse tempo, as vilas baleeiras da Geórgia ainda eram acessíveis e abertas a embarcações.

Amyr ficou com sua equipe até meados de abril. Durante o período, arrumou piers, fixou madeiras, recolheu lixo, contribuiu para a manutenção do lugar, cheio de sítios históricos que contam a época áurea das caçadas a baleias, sem falar no túmulo do explorador anglo-irlandês Ernest Shackleton (1874-1922).

Hoje, por problemas trabalhistas e risco de acidentes, os mandatários da ilha não deixam embarcações aportarem em toda a ilha. Há uma multa de cinquenta mil pounds por barco que se arrisque a fazer isso.

Outro momento importante ocorreu quando o leme principal do barco foi avariado em uma manobra de ré. Duas constatações importantes ocorreram nesse dia tenso. A primeira foi que a sequência das soldagens da peça estava errada. Para resolver isso, uma nova peça, inteira, foi desenvolvida. A segunda, que trouxe alívio aos marinheiros e a seu capitão, foi que os dois lemes auxiliares navegavam bem sozinhos e davam conta do recado. Como em tudo nessa viagem singular, o resultado foi positivo e reforçou as qualidades da embarcação.

Afinal, a Viagem Experimental de 2002 foi a primeira de uma longa série de expedições feitas no Paratii II. Nas doze viagens seguintes para a Antártica, a excelência do barco o consagrou como uma embarcação segura, rápida e plenamente apta a longas viagens e expedições. “O Paratii II tem uma autonomia brutal a motor. O fato dele carregar um estoque muito grande de combustível dá liberdade para podermos decidir caminhos diferentes, de acelerar ou de demorar mais em determinados lugares. Também tem a possibilidade de prestar apoio a outras embarcações que não tem essa característica”, diz Amyr.

A viagem experimental, de certa forma, se desdobra até o presente.


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Circunavegação Polar em Solitário (1998)

A viagem começou em 31 de outubro de 1998, na baía de Jurumirim, em Paraty, tendo como objetivo dar a volta ao mundo pela sua rota mais curta, rápida e difícil”


A viagem começou em 31 de outubro de 1998, na baía de Jurumirim, em Paraty. Objetivo: dar a volta ao mundo pela sua rota mais curta, rápida e difícil. O navegador Amyr Klink conduz mais uma vez seu veleiro Paratii – reformado e com mastro novo – para os mares gelados do sul. Para cumprir o desafio, o Paratii iria partir de um ponto no mapa, a ilha Geórgia do Sul, e navegar continuamente em linha reta até bater nesse ponto outra vez. Com isso, Amyr iria atravessar os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico sozinho no leme do Paratii.

O plano só seria possível na faixa de latitudes altas, entre 50º e 65º S, onde não há interrupção de continentes. Uma epopéia muitas vezes tentada, porém nunca realizada até a ocasião. O capitão enfrentou um pouco de tudo: ventos de 120km/h, um iceberg de 40 metros de altura e 400 metros de largura que por pouco não colidiu com a embarcação, uma tempestade descontrolada que o obrigou a ficar 50 horas acordado ao leme do Paratii. Mas após 88 dias e 14 mil milhas náuticas, Amyr terminara a viagem que daria origem ao livro Mar sem Fim.


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Invernagem (1990)

Amyr Klink Comandando a sua segunda grande jornada em uma viagem que seria a mais longa de todas”


No dia 31 de dezembro de 1989, Amyr partiria de Paraty para sua segunda grande jornada – essa que seria a mais longa de suas viagens. Era um desafio: nunca comandara sozinho um barco do tamanho do Paratii, sua nova embarcação, muito menos havia passado um inverno na Antártica. Mas estava “preparado até os dentes” para sua estréia: alem da autonomia a bordo ser completa, o Paratii fora desenhado para poder ser aprisionado propositalmente no gelo, e não quebrar (leia mais em Barcos_Paratii). Amyr alcançou seu objetivo: ficou 13 meses no continente antártico, sete deles imobilizado na Baía Dorian, em sua primeira invernagem antártica.

Incansável, o explorador decidiu, no meio do inverno, que também iria, naquela mesma viagem, conhecer o gelo ártico. Partiu do sul do planeta no dia 2 de fevereiro de 1991 em direção à mais alta latitude norte que pudesse alcançar. Após cinco meses de navegação, Amyr esbarra em um labirinto de gelo impenetrável para o Paratii. O capitão prossegue de bote até alcançar sua latitude mais extrema, 80º norte, onde passou “3 eternas e maravilhosas horas”. Retornou para a baía de Jurumirim, em Paraty, no dia 4 de outubro de 1991, 642 dias e 50 mil quilômetros depois.


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Travessia a remo do Atlântico Sul (1984)

Primeira Travessia a remo do Atlântico Sul”


Foi a primeira travessia solitária a remo do Atlântico Sul. Por 100 dias, o jovem navegador Amyr Khan Klink, com apenas 29 anos, remou da costa da Namíbia, na África, até a praia da Espera, na Bahia, Brasil. Logo nos primeiros dias, Amyr enfrentou seu batismo de fogo, e atravessou a turbulenta corrente próxima a costa da África, não sem capotar o barco I.A.T. por 3 vezes. Para esses momentos, Amyr idealizara um lastro dos tanques anticapotagem, que fazia o barco se comportar como um joão-bobo: depois que virava, voltava à posição original (leia mais em Barcos_I.A.T.). Essa foi uma das inovações imaginadas por Amyr para o projeto do I.A.T, que tinha como base o modelo do Capitaine Cook, do navegador frânces Gérard D’Aboville.

Como naquela época o GPS (Global Positioning System) ainda não existia, Amyr navegava através dos astros e do sextante. Mas eram as ondas do rádio (leia mais) que traziam informações certeiras sobre seu posicionamento. Em um dia, chegou a remar 110 quilômetros. Em outros, ficava a deriva, esperando as grandes tempestades passarem.

O contato com baleias, tartarugas e tubarões marcou sua viagem, assim como a convivência com as ondas de todos os tipos, das cuspideiras às madrastas, nomenclatura inventada à época, pelo navegador.

O relato dessa viagem daria origem ao livro “Cem Dias Entre Céu e Mar”.


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 Textos de Alessandro Meiguins