“Grandes navegações”

  • 18 de setembro de 2014
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Atravessar um oceano, sozinho, num barco a remo. Alguém seria louco – ou corajoso e inventivo – o suficiente para isso?

Pois o brasileiro Amyr Klink foi. Há exatos 30 anos, em 18 de setembro de 1984, o navegador chegou a Salvador, na Bahia, depois de percorrer as três mil milhas que separam a cidade da costa africana a bordo do I.A.T., barco a remo que ele mesmo construiu. Foi a primeira das grandes viagens que chamaram a atenção do mundo e transformaram esse economista em um dos maiores navegadores modernos.

Em sua jornada inaugural, Klink saiu de Luderitz, na Namíbia, em 12 de junho de 1984. Eram muitos os desafios e os detalhes que precisavam ser cuidadosamente preparados. Por exemplo, calcular exatamente quantos gramas de comida seriam necessários, quais os utensílios indispensáveis para cozinhar e os instrumentos para navegar, entre muitos outros pontos.

O I.A.T. foi projetado especialmente para o desafio: como seria impossível terminar a viagem sem que o barco acabasse virado de ponta-cabeça por alguma grande onda, ele foi desenvolvido para capotar sem problemas, ou seja, para virar e desvirar sozinho. Problemas como os ataques de tubarões e o crescimento de molusco no casco também ameaçaram decretar o fim precoce da aventura. O feito, registrado por Klink no livro Cem dias entre céu e mar, até hoje não foi repetido por ninguém.

Esse foi apenas o começo. O brasileiro participou de uma expedição nacional à Antártica em 1986, e partiu em nova aventura solo em 1989, rumo aos extremos do mundo e a bordo de um veleiro também construído por ele, o Paratii. Na viagem, retornou ao continente gelado, onde permaneceu por cerca de um ano (sendo sete meses preso no gelo da baía de Dorian), e rumou depois para o polo Norte. A partir daí, as visitas à Antártica se tornaram constantes. Por lá, realizou uma de suas viagens solitárias mais perigosas, em 1998. Também a bordo do Paratii, circunavegou o continente pela rota mais difícil, uma expedição de 88 dias retratados em outro livro, Mar Sem Fim.

Ao longo das últimas três décadas, o brasileiro criou canoas, barcos e até grandes veleiros e acumulou mais de 200 mil milhas percorridas em alto-mar. Apesar de não ter qualquer formação em engenharia, seus barcos são reconhecidos pelas inovações e soluções criativas, planejadas para superar os desafios de cada expedição.

Hoje um veterano dos mares e palestrante de sucesso, Klink tem opiniões fortes sobre temas relacionados à exploração das águas do mundo. Em 30 anos, a aparelhagem de geolocalização e as previsões meteorológicas evoluíram muito, mas ele lamenta o declínio do radioamadorismo, o que teria tornado a navegação mais solitária. Também costuma destacar o impacto das mudanças climáticas, em especial sobre seu destino preferido, a Antártica. Uma coisa, porém, não mudou: a emoção de desbravar os mares!

Fonte: Ciência Hoje