Amyr Klink: Rio deveria ter acesso público ao mar

  • 13 de novembro de 2009
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Ele é um dos mais famosos e renomados navegadores do mundo, com mais de 250 mil milhas marítimas navegadas. Em 1984, ele completou uma travessia do Oceano Atlântico, pelo hemisfério Sul, saindo da Namíbia (África) até Salvador (BA). A aventura, deu origem ao livro Cem Dias Entre Céu e Mar, e completa 25 anos em 2009.

Amyr Klink concedeu esta entrevista exclusiva à Agência Rio de Notícias, falou sobre os 25 anos da famosa travessia e fez um alerta: o Rio de Janeiro deveria ter acesso público ao mar. Confira abaixo a entrevista:

Os 25 anos da Travessia:

“Na época, não tinha nenhuma ligação especial com mar. Tinha feito remo no período que estudei na USP (Universidade de São Paulo). Estudava literatura francesa e comecei a ler então relatos de viagens. Depois, tive um acidente em Paraty e tive uma secção grave na mão, ficando impossibilitado de remar. A partir daí comecei a acompanhar a travessia do Atlântico Norte e de repente eu estava envolvido com a viagem. A travessia em si, teve mais dificuldades burocráticas, que quando eu saí, na África, no final foi um alívio. A experiência é um pouco impressionante, mas não foi difícil. A grande dificuldade foi a logística. Foi uma experiência muito bacana. Adorei chegar na Bahia. Estava feliz e jornalistas fizeram piada: ‘o cara ficou doido, não quer descer do barco’. No ultimo dia estava feliz”.

Cem Dias Entre Céu e Mar

“O fato mais importante, e não tinha consciência disso, foi o de escrever o livro. Acho engraçado ouvir falar de gente que já fez projeto por causa do livro. Fiz sem muito compromisso e acho que fui mais bem sucedido nessa experiência literária. O livro adquiriu vida própria, teve umas 700 mil cópias com a Olimpio (José Olímpio, editora) e várias outras. É um livro que vai passar dos 2 milhões de exemplares vendidos e continua sendo adotado. Fiquei muito surpreso de ver uma comunicação pouco valorizada. Se não fosse o interesse pelo livro não teria feito a viagem. Mas acho que as novas tecnologias darão maior acesso aos livros. Essa convivência com o papel não deve acabar”.

O Rio de Janeiro e o mar

“É um absurdo uma cidade como o Rio de Janeiro, por exemplo, não ter acesso publico ao mar. Tem uma marina. Aliás, era uma cidade para ter, no mínimo, 5 mil barcos parados em piers flutuantes, mas não tem um lugar para atracar uma baleeira (tipo de barco a remo), por exemplo. Reflete o Brasil hoje: tem medo do mar. O país faz operações offshore, mas o cidadão comum teve o mar amputado. O carioca não pode passear no porto de sua cidade, que é fechado. Acho impressionante que esse projeto de Guggenheim (museu que a gestão César Maia tentou implantar na região do Porto do Rio) quando ali era lugar para ter uma das mais importantes marinas do mundo”.

O Brasil e as atividades náuticas

“No Brasil temos uma área que é uma das maiores geradoras de empregos: os barcos de turismo. E são quase 1 milhão de pessoas que estão à margem da lei. A gente não diferencia o barco de cabotagem dos menores. Para guiar um barco de turismo é preciso fazer um curso de dois anos na Marinha Mercante. Os barcos brasileiros competem em qualidade com os melhores estaleiros do mundo. Mas você olha a Baía de Guanabara e não vê uma vela. É hilário. Existem lugares em Pernambuco com um potencial natural que pode representar dez vezes de tudo o que o Brasil pensa em fazer no turismo. Deve pensar de oito a dez vezes em seu PIB em atividades náuticas e não é só permitindo a vinda de navios de cruzeiro para cá. A gente está perdendo a oportunidade com atividades de afretamento de barcos, que poderia alcançar algo em torno de R$ 40 bilhões. É o numero de potencial a curto prazo para fazer. E o Brasil tem potencial para fazer isso”.

Fonte: Agência Rio